Existe uma rua abandonada dentro da minha cabeça e frequentemente eu me encontro nela, sentado no meio-fio, sozinho e em silêncio, observando tudo a minha volta. Nesse pequeno mundo está sempre chovendo. As nuvens estão sempre pesadas, como se estivessem prestes a desmoronar na minha cabeça. Ou talvez eu mesmo esteja prestes a desmoronar em cima delas. E eu apenas permaneço lá, esperando o mundo se revelar pra mim. Ele também espera que eu me revele. É um jogo de paciência. E a chuva não vai parar até me afogar. Nós precisamos mesmo deixar que alguma coisa nos afogue, não é? Se não for a chuva, será o medo, a arrogância, o amor. Eu começo a boiar involuntariamente e, aos poucos, sinto a água penetrar o meu corpo e encher os meus pulmões. Eu afundo mas permaneço consciente. Alguém tem que estar com os olhos abertos pra ver. Alguém tem que estar com os ouvidos atentos pra escutar. Alguém precisa mastigar, engolir e digerir.
Você tem ideia do quão ruim é viver preso a um lugar onde chove o tempo inteiro? Eu aposto que não. Você gosta de ficar jogado no tapete do seu quarto se automedicando e conversando com os seus fantasmas de estimação. Alimentando sensações artificiais de felicidade pra fugir do medo de não conseguir girar a maçaneta e sair correndo atrás do que te faz bem. Um homem sábio uma vez disse pra não enfrentarmos monstros sob a pena de nos tornarmos um deles, mas o que esse mesmo homem não disse é que alguém precisa fazer as mesmas perguntas todos os dias apenas pra ter certeza de que as respostas ainda são as mesmas também. Você está determinado a insistir na mesma decisão todos os dias da sua vida? Eu tive um sonho noite passada que me disse o contrário. E quando eles perguntarem se eu me perdi naquela rua, diga a eles que eu sou a própria rua porque ainda não estava pronto pra me tornar qualquer outra coisa.

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