É como os grandes físicos e sonhadores dizem, somos poeira estelar. Todas as manhãs em que desço a escadaria da estação eu desejo que os vagões estejam vazios o suficiente pra eu não me sentir sufocado e ao mesmo tempo cheios o suficiente pra eu não sentir falta de ninguém. Estou rodeado de pessoas exaustas e descontentes jogando em seus celulares ou comentando sobre o clima, esperando que alguma coisa aconteça pra colocar uma expressão em seus rostos. Pensar que pra maioria dessas pessoas a mais terrível inevitabilidade da vida é a morte me faz abrir um sorriso torto, muito torto. E quanto a esses minutos perdidos entre as estações? Eu não sei o que eu deveria fazer com eles. Me resta torcer pro desembarque na próxima estação ser obrigatório.
Eu penso sobre tudo o que já fiz e disse nessa curta e patética existência e não consigo evitar classificar todas as frases e atitudes em certas ou erradas. Eu quase me convenço de que o certo e o errado não variam tanto assim de pessoa pra pessoa. É engraçada a maneira como tudo o que eu disse ou fiz que parece ter sido certo soa muito melhor na minha cabeça do que realmente é. Faz eu me sentir como uma espécie de herói. Alguém que vale a pena ouvir e ter por perto, sabe? E ao mesmo tempo tudo o que eu disse e fiz que parece ter sido errado soa ainda pior aqui dentro. Faz eu me sentir um merda. E olha que eu nem sei se posso usar uma palavra dessas na coluna, mas merda define tão bem que eu vou correr o risco.
Esses dois lados das nossas vivências são como as duas asas de uma pássaro. Você pode até se apegar mais a uma delas mas tem que admitir que precisa das duas pra voar e de nenhuma delas pra cair. Nesse exato momento eu sou aquela pessoa em posição extremamente desconfortável e que não tem onde se segurar mas que ainda assim é usada como apoio pelas pessoas que estão ao redor todas as vezes que o freio é acionado. Elas devem pensar que eu sou mais forte que elas e nessa atitude inconsciente essas pessoas me ensinam muitas lições. Há duas certezas nessa história toda. A primeira é a minha dor nas costas. A segunda é que uma voz surgirá do além e nos dirá pra tomar cuidado com o vão entre o trem e a plataforma. Mas eu até que gosto de quedas, você não?

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