segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Um pouco de terra, um pouco de amor e algumas estrelas.

Nesse exato momento eu sou apenas um cadáver sentado na frente de um computador enquanto alguém digita essas palavras lentamente em uma certa ordem, torcendo pra que elas alcançem você com o significado mais honesto possível. Me desculpe por ontem, por hoje e por todos os próximos dias em que você vai insistir em vir me visitar. Não se preocupe, não serão muitos, mas minha mãe não vai deixar você entrar. Eu não quero que me veja assim. Não mais. Se quer fazer algo por mim, cuide dela e das minhas irmãs. Dê a elas todos os abraços apertados que eu já não tenho forças pra dar. E se em algum momento no ápice da saudade de ouvir a sua voz eu deixar você entrar, me prometa que vai virar o rosto. Por favor, eu não irei beijar você. Estou acabado, eu não vou mesmo sair dessa. Meus lábios estão rachados e desbotados. Todo o meu cabelo abandonou o meu corpo e eu passo os dias completamente nauseado por causa das sessões de quimioterapia. 

Vá até a minha casa. Pergunte a minha família sobre as histórias da minha infância. Sobre a vez em que quebrei o braço jogando futebol. O meu primeiro dente de leite. O meu álbum de formatura. Ouça histórias sobre quando eu não estava esperando pelo escuro, apenas tinha medo dele. Vá até o quarto nos fundos, onde eu costumava pintar. Conheça as minhas cores preferidas. Pegue quantas pinturas e desenhos quiser. Ouça os meus CD's. Eu não preciso de mais nada disso. Tudo o que me resta é a agonia de saber que eu nunca vou me casar. Nunca vou me formar. Não vou envelhecer, tem ideia do quanto isso é devastador? Eu vou morrer como um jovem estúpido e ingênuo. Eu queria ter mais tempo pra conhecer o mundo, pelo menos o suficiente pra gostar mais dele. Estou contando os dias pra partir, isso simplesmente não é viver. E se você disser adeus hoje, eu espero que seja sincera. Porque a parte mais difícil disso tudo é deixar você.



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