terça-feira, 24 de novembro de 2015

Dezessete e cinquenta e cinco

Ás vezes gostar de alguém pode parecer
Arrancar e mastigar um pedaço de si mesmo
Em geral um daqueles pedaços que nós não gostamos
Cuspir ou engolir com vontade e
Esperar que outra pessoa coloque um dela no lugar
Porque jogar a responsabilidade do improvável que é te completar
Nas costas de alguém é muito mais fácil do que
Segurar as mãos dessa mesma pessoa e dizer
O quanto você adora o outro mundo que acabou conhecendo
Através das palavras que ela diz e das histórias que ela conta
Porque é tudo uma questão de se permitir
Regar um cantinho do jardim que existe dentro de você 
Todos os dias
Não ter medo da luz do sol que vai passar entre as árvores
Das naturais inconstâncias
E das flores que vão desabrochar ali
Reconhecer que alguém ultrapassou os seus muros
Como se eles não existissem
E que te faz bem
Não um bem qualquer desses que te ilude através dos teus caprichos
E que pode te trair
Mas um bem que existe desde o primeiro momento em que
Você e essa outra pessoa estiveram em sintonia
Desde o primeiro momento em que o seu olhar se encontrou com o dela
E você percebeu que essa pessoa te enxerga pra além dos teus olhos
Que vocês alcançam lugares um no outro que 
Pareciam não existir antes disso
E talvez não existissem mesmo
Porque você sabe que ela é o ser mais estranho e extraordinário
Que você já conheceu e
Você só quer cuidar dela e tornar algum lugar desse mundo
De preferência ao seu lado
Um lugar não apenas suportável pra ela
Mas um lugar que faça tão bem a ela quanto ela faz a você
Ou até mais
Porque você se tornou alguém melhor apenas por saber que
Alguém como ela existe
E você adora essa própria maneira dela existir e
Mesmo que a maioria não perceba tudo o que envolve
Ser ela
Você percebe e se encanta e
Deixando de lado todos os obstáculos
Ou seja lá o que for
Eu só queria dizer também que
São dezessete e cinquenta e cinco
E agora eu finalmente entendo porque a palavra saudade
Não existe em nenhuma outra língua
E se você acha exagero as coisas que eu digo ou escrevo
É porque não viu as que eu apago
Ou as que eu guardo só pra mim
Em algum lugar confortável aqui dentro
Onde há também uma plaquinha com o seu nome
Muitas estrelas no céu
E flores da cor e com o cheiro do seu cabelo.


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