segunda-feira, 15 de junho de 2015

Diagnóstico.

De vez em quando eu cogito me esforçar pra variar um pouco a temática da coluna, mas imagino que quando você digita "Amarga Empatia" no seu navegador ou clica no link da imagem de divulgação na página do Facebook você não está procurando nada além do que as lascas da minha loucura digitadas em um documento do WordPad. E se você leu essa primeira frase do texto e se perguntou "Ué, mas ele já não varia de tema?", eu devo dizer que com exceção das poesias, eu não vario. É tudo a mesma coisa dita de maneiras diferentes. É tudo um caos. Entende o que é caos? Talvez você tenha algo diferente em mente quando lê essa palavra. Então imagine um daqueles brinquedos de criança bem pequena onde tem uma superfície com buracos no formato de várias formas geométricas e sólidos de plástico pra criança encaixar. É um desses brinquedos que estimulam o raciocínio. Onde eu quero chegar é que você nunca vai conseguir encaixar a esfera no buraco em forma de quadrado ou o cubo no buraco em formato de círculo. Não importa o quanto tente. E se existisse uma peça a mais, uma com um formato que não se encaixa em nenhum dos buracos da superfície? Será que isso faria dela uma peça inútil? Ela pode estar ali apenas pra ensinar a criança que nem tudo tem um "lugar definido", mas será uma peça inútil para o propósito de encaixar as peças na superfície. Os pais não ligariam que a criança perdesse uma peça assim.

Se você está achando que, como a maioria do que eu digo aqui, essa história do brinquedo é apenas uma analogia, está correto. Se essa peça sem propósito pudesse pensar e sentir, ela olharia a sua volta, olharia as outras peças que tem direito a um lugar na superfície do brinquedo e não se sentiria bem. Veria que que seu destino bem como a sua função ou propósito dependem da perspectiva de outras pessoas pra serem reconhecidos. Não se trata de ignorar. Ela não pode fazer nada. Nada muda o fato de que ela não tem como e nem onde se encaixar.  E agora imaginando que todas as peças pudessem pensar e sentir, será que as que tem um lugar garantido não se achariam superiores? Elas não tem culpa. Mas e a outra peça, tem? Eu não sei. O que eu sei é que pra essa peça, a própria existência do brinquedo é um caos por não permitir a existência de exceções como ela. E pras outras peças ela é a verdadeira causadora do caos, porque tudo estaria em harmonia sem ela. Faz até que um pouco de sentido, caos é o que a impede a harmonia de acontecer. Então por que não seria a peça sem propósito? Afinal ela é como um erro na duplicação do DNA. Ela é como os dois biscoitos grudados que nós pegamos no pacote e fazemos questão de mostrar a todos que  é diferente do normal. Diferente do que deveria ter saido da forma na fábrica. E as vezes nos surpreendemos por ele ter o mesmo gosto dos outros.

Os textos dessa coluna não passam de um tremendo esforço pra ser sincero de uma maneira não direta. Não agressiva. Não ingênua. Não são escritos pra convencer ou achar pessoas que concordem. Acho que não são escritos nem pra serem entendidos, porque tenho plena consciência de que ninguém entende a maioria das coisas que eu escrevo aqui. Acredito que durante a vida nós cavamos muitos buracos em nós mesmos. É inevitável. E daí temos que decidir entre colocar a terra de volta e fingir que tudo voltou ao normal ou procurar algo pra enterrar. Algo que, como no brinquedo, tenha o formato exato do buraco. Não preciso nem dizer que é muito mais fácil e aceitável apenas colocar a terra de volta. É um trabalho rápido e imperceptível. Mas se você algum dia ver aquilo que tem o formato de um dos buracos e você o tiver entupido com terra, vai se lembrar? Eu prefiro não correr o risco. Ser mais fácil e aceitável não é o suficiente pra mim. Porque eu sei que o buraco vai continuar lá, de um jeito ou de outro. Portanto, tragam os comprimidos que acham que podem curar tristeza. Cuspam as construções sociais e tradições que chamam de normal. Mas tragam uma camisa de força também, porque enquanto eu puder me mover eu vou fugir. Fugir. Fugir. E fugir. Porque é isso o que os produtos do caos fazem. Nós fugimos. E quando não der mais pra fugir, meus caros, nós cairemos em um dos buracos que fazemos questão de não preencher só com terra. Nos tornaremos o próprio preenchimento.


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